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António Pedro Ribeiro - parte 1/2 - «A minha escrita foi-se tornando mais cortante e mais crua.»

 Chama-se António Pedro Ribeiro e assume-se como um escritor completamente livre. Seguidor da arte em estado puro, o poeta permitiu que esmiuçasse um pouco de si e da sua visão do mundo. Segue, a sua entrevista.




CC- De onde lhe surgiu o gosto pela escrita?

António Pedro Ribeiro - Escrevi os primeiros versos aos 14/15 anos quando frequentava o Liceu Sá de Miranda em Braga. Eram daqueles versos ingénuos e imaturos mas um deles, sobre a guerra, ganhou um prémio num concurso literário organizado pelo liceu. Aos 16 anos escrevia umas letras em inglês para uma banda imaginária chamada "The Vikings", que tinha como mentor o Peter Owne, o poeta das barbas, meio hippie, meio freak, que se sentava, contemplativo, à esplanada do Café Central. Aos 18 terei escrito os meus primeiros bons poemas como "Mulher Ausente", "Anjo em Chamas", "Representação" ou "Ébrio 29". Comecei a escrever graças ao meu professor de Português do 10º ano, José Miguel Braga, que tinha uma forma muito original e inovadora de dar as aulas, incentivando-nos para a escrita e para a leitura. Também devo muito aos meus colegas Rui Soares e Jorge Pereira.



CC - O António Pedro é um escritor com uma obra vasta, como define essa sua obra?

António Pedro Ribeiro - Publiquei 13 livros. Alguns são muito diferentes entre si. O "Á Mesa do Homem Só" de 2001 é lírico, vertiginoso e praticamente não fala de política, como disse o crítico do "Diário de Notícias", enquanto que a "Declaração de Amor ao Primeiro-Ministro", publicada pelo Valter Hugo Mãe, e que foi o livro com mais êxito, e o "Queimai o Dinheiro" são satíricos, hedonistas e muito politizados. "Nietzsche, Jim Morrison, Henry Miller, os Mercados e Outras Conversas" é em prosa e entra nos campos da filosofia e da sociologia, com algum misticismo à mistura, tal como a segunda parte de "O Caos às Portas da Ilha". A minha escrita foi-se tornando mais cortante e mais crua. Tenho também livros dedicados aos cafés e à vida de café, sobretudo "Café Paraíso", mas também "Á Mesa do Homem Só" ou "Saloon". Creio que, ao longo destes anos, tenho cantado a liberdade, como em "Fora da Lei", a revolta e a loucura mas também a mulher bela, a vida nocturna, o álcool, os bares e as noitadas, o poeta à mesa e os seus filmes, o animal de palco, o rock, o concerto.



CC - Em que autores se inspira?

António Pedro Ribeiro - Antes de todos, Nietzsche e Jim Morrison. Deram-me a volta à cabeça várias vezes. Morrison exigia o mundo aqui e agora, era um animal de palco, um profeta, dizia que esta vida não se resume a uma fórmula única e irreversível, que todos podemos ser deuses. Nietzsche alertou-me para o homem pequeno, para o macaco que trepa para cima dos outros em busca do poder, do dinheiro, do estatuto. Fala do espírito livre, do criador, da liberdade absoluta que se opõem ao rebanho e à "felicidade" da maioria. Foi um período da minha vida, entre os 16 e os 20 anos, em que ouvia os Pink Floyd e as letras anti-sistema do Roger Waters, em que ouvia os Doors e li "Assim Falava Zaratustra", livro que já li sete vezes, além de ter visto o "Apocalypse Now" de Coppola, com o Marlon Brando naquele papel genial de xamã. Foi um cocktail molotov na minha cabeça. Agora leio mais livros de filosofia ou de sociologia do que literatura. Tenho lido Platão, Aristóteles, Max Stirner, Karl Marx, Kropotkine, Sartre, Marcuse, Bertrand Russell, Erich Fromm, Zizek, Edgar Morin, Raoul Vaneigem, Guy Debord, Hannah Arendt, Agostinho da Silva mas continuo a ouvir Lou Reed, Led Zeppelin, Doors, Joy Division, UHF, Mão Morta e sou influenciado pelos escritores e poetas Shakespeare, Henry Miller, Dostoievski, Anais Nin, Rimbaud, Sade, Bukowski, William Burroughs, Allen Ginsberg, George Orwell, Walt Whitman, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, Luiz Pacheco, os surrealistas, Sebastião Alba, Mário Cesariny e Alberto Pimenta.





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