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A coisa mais importante de todas as que não têm importância

Quando no perguntam quais são as coisas mais importantes na nossa vida, as respostas acabam por ser quase sempre unânimes, saúde, amor, amizade, a paz ou o dinheiro. As nossas emoções dependem destes ingredientes para que uma vida seja próspera ao longo do seu curso natural. No entanto, nós por cá, juntamos outro condimento numa quantidade que exacerba o nosso quotidiano, o futebol.



Ocupa noites informativas, reportagens especiais e até capas de jornais, mais do que qualquer outro assunto da actualidade, fazendo do futebol o tema do momento que todos querem falar, mas que na realidade ninguém fala, o futebol em si.

As noites são ocupadas, pelos chamados paineleiros, que comentam com palas nos olhos a «actualidade» desportiva, falam dos árbitros, dos escândalos, das transferências e até fazem exercícios futuristas como se de bruxos tratassem, defendendo com unhas e dentes o burro que os sustenta, um dos três grandes do nosso futebol.

Mas o futebol não se resume ao que estes delinquentes futebolísticos defendem, o futebol é mais do que um desporto, é uma espécie de arte popular que merece ser visto como tal e não como excremento social. O futebol é uma mistura de tudo o que nos faz gostar de viver, a imprevisibilidade, a ambição, a paixão e a estratégia aliada ao desejo de vencer explicam o porquê do futebol ser um assunto sempre actual, porque está intrínseco ao ser português.

Só em Portugal há mais de 170 mil federados, milhares de dirigentes desportivos, outros milhares de árbitros e outros tantos familiares que vivem na pele semanalmente o seu jogo, sem ligar ao que estes iluminados do futebol acrescentam. O futebol não se resume aos 3 grandes, há mais vida para além do Guerra e dos seus comparsas, há um desporto que exige empenho, garra e arte por parte dos seus intervenientes, dos futebolistas, dos treinadores, dos árbitros mas também dos adeptos, amantes da modalidade que não se podem rever neste ópio social que se está a tornar o futebol, em que só 3 ocupam o lugar de milhares.

O futebol está a desfigurar-se daquilo que fez com que fosse tão importante no nosso quotidiano, cada vez mais centralista, deixou de dar voz aos pequenos, tornando-se cada vez mais previsível, opaco e em que a arte de marcar um golo deixou de ser o principal assunto. Por ser a coisa mais importante de todas as que não têm importância é preciso tratar o futebol como tal e não como uma espécie de lixo social em que a sua importância se resume à nossa estupidez.

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