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Viagens da nossa terra, Chipiona



Uma  rubrica semanal de Diogo Xavier, estudante da FLUC  e viajante a tempo parcial.


Chipiona é aterradora quando se chega de carro, depois de oito horas de viagem a partir de Coimbra. Quando são cinco horas da manhã, depois de uma longa viagem, qualquer sítio parece morto, derramando sobre si uma escuridão infinita. Chipiona não é excepção se chegares no fim da festa, quando, numa madrugada de sábado, os jovens já deram os primeiros beijos das suas vidas e já vomitaram depois da carraspana. Quando o sol se arredou e a praia ganhou apenas o som das ondas que não param, as ondas nunca param num movimento perpétuo de aflição na areia. É nesse momento que Chipiona não tem ainda sentido ou já o perdeu. 


O melhor caminho é dormir, admitindo a chegada tardia. Foi isso que fizemos, no hotel monterrey, que fica mais ou menos entre a  avenida de sevilha e o anarquista húngaro que escolheu para a vida esculpir crocodilos de unhas pintadas na areia de Chipiona.


Perto da hora de almoço, quandos trabalhadores começam a preparar as esplandas para o favorecimento dos negócios, começa a festa em chipiona. 


Passamos ao lado da praia, vazia ainda. Fomos em direcção ao farol, o mais alto de Espanha, tão alto que dali se vê Marrocos, dali se vê Angola, dali se vê, íamos jurar que dali se vê, quase, a África do Sul. Na areia junto ao farol as conchas são imensas, conchinhas de tamanhos diversos, formas redondas e côncavas, quem raio desenha isto? que programadores fazem o seu marketing? os turistas adoram. 


Recebemos os peruanos de Madrid. Os peruanos de Madrid são talvez as pessoas mais integras do mundo, trabalham em limpezas ou em biscates, arranjando coisas, mantendo coisas, corrigindo coisas para os senhores madrilenos. Ganham pouco para o que trabalham e, mesmo quando fazem turismo, comportam-se como trabalhadores. Não têm vícios turísticos, não precisam do melhor hotel e da melhor refeição, do melhor SPA ou da melhor vida, os peruanos de Madrid são gente que se sacrifica em prol da causa. 


Passeámos, finalmente, por chipiona. hoy caracoles e cabrillas. Os espanhóis falam tão rápido às vezes. Consegues-se imaginar isto dito muito rápido? hoy caracoles e cabrillas, num acelerador de voz. São espantosas as frases dos espanhóis na era da técnica. Continuámos. Nem caracoles nem cabrillas. Reparámos nos penduricalhos antigos da coca-cola. Notava-se que eram velhos. Chipiona ajudou a fazer crescer a coca-cola, essa é a verdade. Seguimos para o Santuário, apanhámos a hora de missa. A fé na era da técnica. Por que rezam? Não interessava. A seguir, passeio à beira-praia. O anarquista húngaro que esculpiu o crocodilo com unhas pintadas. No fotos, atira una moneda se quieres, disse ele, de copo na mão, orgulhoso da sua obra. Tinha razão, na era da técnica, no fotos, dinheiro na mão e pronto. 



Os espanhóis divertiam-se nos bares, os jovens de chipiona cheiram a rafeiro, mas que culpa? São jovens, desadequados e embrulhados, hão-de aprender. Fomos jantar e a a seguir metemo-nos num baile com música ao vivo cantada por um casal espanhol. Ele de cabelo comprido e quase sujo, como se não tivesse saído dos anos 80. Ela com poucos dentes e voz esganiçada(só a voz, que náo somos o Pedro Arroja). Uma desgraça feliz com o despacito como pano de fundo. Dançámos até que o suor escorresse, os peruanos de Madrid não precisam de artistas de milhões, nem sequer de artistas com dentes. No fim do baile, uma mirada sobre a praia. Não se via nada, não interessava. Queríamos ouvir o som da água a bater na areia. Era a revolução marítima. 

Não percam as próximas publicações, espero que tenham gostado.

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